CAPÍTULOS 6 e 7 (HISTORIA DA REDENÇÃO)
CAIM E ABEL
SETE E ENOQUE
Caim e Abel, filhos de Adão, diferiam grandemente em
caráter. Abel temia a Deus. Caim, porém, acariciava sentimentos de rebeldia, e
murmurava contra Deus por causa da maldição pronunciada sobre a Terra e sobre o
gênero humano, em virtude do pecado de Adão. Esses irmãos tinham sido
instruídos com respeito à provisão feita para a salvação da raça humana. Deles
era requerido que praticassem um sistema de humilde obediência, mostrando sua
reverência a Deus e fé no Redentor prometido. Mediante o sacrifício dos
primogênitos do rebanho e sua solene apresentação, com o sangue, como oferta
queimada a Deus mostrariam sua dependência dEle. Este sacrifício devia levá-los
a ter sempre em mente o seu pecado e o Redentor por vir, o qual devia ser o
grande sacrifício pelo homem.
Caim trouxe suas ofertas perante o Senhor com murmuração e
infidelidade no coração em referência ao Sacrifício prometido. Ele não estava
disposto a seguir estritamente o plano de obediência, procurar um cordeiro e
oferecê-lo com os frutos da terra. Meramente tomou dos frutos da terra e
desrespeitou as exigências de Deus. Deus tinha feito saber a Adão que, sem o
derramamento de sangue, não podia haver remissão de pecados. Caim não estava
preocupado em trazer nem mesmo o melhor dos frutos. Abel aconselhou a seu irmão
que não viesse diante do Senhor
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sem o sangue do sacrifício. Caim, sendo o primogênito, não
quis ouvir seu irmão. Desprezou seu conselho e, com dúvida e murmuração com
respeito à necessidade das ofertas cerimoniais, apresentou uma oferta de
frutos. Mas Deus não a aceitou.
Abel trouxe dos primogênitos de seu rebanho e da gordura,
como Deus tinha ordenado; e cheio de fé no Messias por vir, e com humilde
reverência, apresentou a sua oferta. Deus aceitou a sua oferta. Uma luz brilhou
do Céu e consumiu a oferta de Abel. Caim não viu manifestação de que a sua era
aceita. Irou-se com o Senhor e com seu irmão. Deus condescendeu em mandar um
anjo para conversar com ele.
O anjo inquiriu quanto à razão de sua ira, e informou-o de
que, se ele fizesse o bem e seguisse as orientações que Deus tinha dado, Ele o
aceitaria e estimaria sua oferta. Mas se não se submetesse humildemente aos
planos de Deus, crendo e obedecendo, Ele não podia aceitar sua oferta. O anjo
declarou a Caim que isto não era injustiça da parte de Deus, ou parcialidade
mostrada para com Abel, mas que era em virtude de seu próprio pecado e
desobediência à expressa ordem de Deus, que Ele não podia aceitar sua oferta; e
se fizesse o bem seria aceito por Deus, e seu irmão lhe daria ouvidos, e Caim o
guiaria, porque era o mais velho.
Mas mesmo depois de ser assim fielmente instruído, Caim não
se arrependeu. Em vez de censurar-se e aborrecer-se por sua incredulidade,
ainda se queixou da injustiça e parcialidade de Deus. Em sua inveja e ódio,
contendeu com Abel e o reprovou. Abel mansamente apontou o erro de seu irmão e
mostrou que o equivocado era ele próprio. Caim porém, odiou a seu irmão desde o
momento em que Deus lhe manifestou as
provas de Sua aceitação. Seu irmão Abel procurou acalmar-lhe
a ira, mostrando que houve compaixão de Deus em salvar a vida de seus pais,
quando podia ter trazido sobre eles morte imediata. Disse a Caim que Deus os
amava, ou não teria dado Seu Filho, inocente e santo, para sofrer a ira de que
o homem, pela sua desobediência, era merecedor.
Os Prenúncios da Morte
Enquanto Abel justificava o plano de Deus, Caim tornou-se
enraivecido, e sua ira cresceu e ardeu contra Abel até que em sua raiva o
matou. Deus o inquiriu a respeito de seu irmão, e Caim proferiu uma culposa
falsidade: "Não sei: sou eu guardador do meu irmão?" Gên. 4:9. Deus
informou a Caim que sabia a respeito de seu pecado - que estava informado de
todos os seus atos, mesmo os pensamentos de seu coração, e disse-lhe: "A
voz do sangue do teu irmão clama a Mim desde a terra. És agora, pois, maldito
por sobre a terra cuja boca se abriu para receber de tuas mãos o sangue de teu
irmão. Quando lavrares o solo não te dará ele a sua força; serás fugitivo e
errante pela Terra." Gên. 4:10-12.
A princípio, maldição sobre a terra tinha sido sentida
apenas levemente; mas agora, uma dupla maldição repousava sobre ela. Caim e
Abel representam as duas classes, os justos e os ímpios, os crentes e os
incrédulos, que deviam existir desde a queda do homem até o segundo advento de
Cristo. O assassínio de Abel por seu irmão Caim, representa os ímpios que
teriam inveja dos justos, odiando-os porque são melhores do que eles. Teriam
inveja e perseguiriam os justos e os arrastariam à morte, porque seu reto
proceder lhes condenava a conduta pecaminosa.
A vida de Adão foi de um triste, humilde e contínuo
arrependimento. Quando ensinava seus filhos e netos a temerem o Senhor, era com
freqüência amargamente reprovado por seu pecado, de que resultara tanta miséria
sobre sua posteridade. Quando deixou o belo Éden, o pensamento de que deveria
morrer fazia-o estremecer de horror. Olhava para a morte como uma terrível
calamidade. Foi primeiro familiarizado com a horrível realidade da morte na
família humana, pelo seu próprio filho Caim ao matar seu irmão Abel. Cheio de
amargo remorso por sua própria transgressão e privado de seu filho Abel,
olhando a Caim como um assassino, e conhecendo a maldição que Deus pronunciara
sobre ele, o coração de Adão quebrantou-se de dor. Amargamente ele se reprovou
por sua primeira grande transgressão. Suplicou o perdão de Deus mediante o
Sacrifício prometido. Ele havia sentido profundamente a ira de Deus pelo crime
cometido no Paraíso. Testemunhou a corrupção geral que mais tarde finalmente
forçou Deus a destruir os habitantes da Terra por um dilúvio. A sentença de
morte pronunciada sobre ele por seu Criador, que a princípio lhe pareceu tão
terrível, depois que ele viveu algumas centenas de anos, parecia justa e
misericordiosa em Deus, pois trazia o fim a uma vida miserável.
Ao testemunhar Adão os primeiros sinais da decadência da
natureza com o cair das folhas e o murchar das flores, chorou mais sentidamente
do que os homens hoje choram os seus mortos. As flores murchas não eram a razão
maior do desgosto, visto serem tenras e delicadas; mas as altaneiras, nobres e
robustas árvores arremessando suas folhas e apodrecendo, apresentavam diante
dele a dissolução geral da linda natureza, que Deus criara para especial
benefício do homem.
Para seus filhos e os filhos deles, até a nona geração, ele
descrevia a perfeição de seu lar edênico, e também sua queda e seus terríveis
resultados, e a carga de pesar que veio sobre ele, em conseqüência da ruptura
em sua família, que redundou na morte de Abel. Referiu-lhes os sofrimentos que
Deus tinha trazido sobre ele, para ensinar-lhe a necessidade de estrito apego à
Sua lei. Declarou que o pecado seria punido, em qualquer forma que existisse.
Instou com eles para que obedecessem a Deus, que os trataria
misericordiosamente, se O amassem e temessem. Os anjos mantinham comunicação
com Adão depois da queda, e informaram-no do plano da salvação, e que a raça
humana não estava além da redenção. Apesar da terrível separação que tivera
lugar entre Deus e o homem, uma providência tinha sido tomada mediante o
oferecimento de Seu amado Filho, pela qual o homem podia ser salvo. Mas sua
única esperança estava numa vida de humilde arrependimento e fé na provisão
feita. Todos os que aceitassem a Cristo como seu único Salvador, seriam de novo
colocados no favor de Deus mediante os méritos de Seu Filho.
CAPÍTULO 6 (HISTORIA DA REDENÇÃO)
Sete e Enoque
Sete tinha um caráter digno, e devia tomar o lugar de Abel
em reto proceder. Contudo era filho de Adão, como o pecaminoso Caim, e não
herdou da natureza de Adão mais bondade natural do que Caim herdara. Nasceu em
pecado, mas pela graça de Deus e recebendo os fiéis ensinamentos de seu pai
Adão, honrou a Deus, fazendo Sua vontade. Separou-se dos corruptos descendentes
de Caim e lutou, como teria feito Abel caso vivesse, para volver a mente dos
homens pecadores à reverência e obediência a Deus.
Enoque era um santo homem. Servia a Deus com singeleza de
coração. Compreendeu a corrupção da família humana e separou-se dos
descendentes de Caim, reprovando-os por sua grande maldade. Existiam na Terra
aqueles que reconheciam a Deus, e O temiam e adoravam. Mas o justo Enoque era
tão afligido pelo crescente mal da impiedade, que não se associava com eles diariamente,
temendo ser afetado por sua infidelidade e que seus pensamentos não
considerassem a Deus com a santa reverência que era devida ao Seu exaltado
caráter. Seu coração se agitava ao testemunhar diariamente como pisavam a
autoridade de Deus. Decidiu separar-se deles e gastar muito de seu tempo em
solidão, a qual devotava à
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reflexão e oração. Ele esperava diante do Senhor e orava
para conhecer Sua vontade mais perfeitamente, para poder realizá-la. Deus Se
comunicava com Enoque mediante Seus anjos, dando-lhe instrução divina. Fez-lhe
saber que não suportaria para sempre a rebelião do homem - que Seu propósito
era destruir a raça pecadora trazendo um dilúvio de água sobre a Terra.
O puro e amável Jardim do Éden, de onde nossos primeiros
pais foram expulsos, permaneceu até que Deus Se propôs destruir a Terra pelo
dilúvio. Deus plantara o jardim e o abençoara especialmente, e em Sua
maravilhosa providência removeu-o da Terra, e o fará voltar outra vez à Terra,
mais gloriosamente adornado do que antes de ser removido. Deus Se propôs
preservar um espécime de Sua perfeita obra criadora livre da maldição com que
amaldiçoara a Terra.
O Senhor abriu mais amplamente para Enoque o plano da
salvação e, pelo Espírito de Profecia, transportou-o através das gerações que
viveriam depois do dilúvio, mostrando-lhe os grandes eventos relacionados com o
segundo advento de Cristo e o fim do mundo. Jud. 14.
Enoque estivera perturbado com respeito aos mortos.
Parecia-lhe que os justos e os ímpios iriam para o pó juntamente, e que este
seria o seu fim. Não podia ver claramente a vida do justo além da sepultura. Em
visão profética foi instruído com relação ao Filho de Deus que devia morrer
como sacrifício pelo homem, e foi-lhe mostrada a vinda de Cristo nas nuvens do
céu, acompanhado pelo exército angelical, a fim de dar vida aos justos mortos e
resgatá-los de sua sepultura. Viu também o estado corrupto do mundo, no tempo
em que Cristo apareceria pela segunda vez - que haveria
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uma geração jactanciosa, presumida, voluntariosa,
arregimentada em rebelião contra a lei de Deus, e negando o único Senhor Deus e
nosso Senhor Jesus Cristo, pisando o Seu sangue e desprezando Sua expiação. Viu
os justos coroados de glória e honra, e os ímpios banidos da presença do
Senhor, e destruídos pelo fogo.
Enoque fielmente transmitiu ao povo tudo o que Deus lhe
havia revelado pelo Espírito de Profecia. Alguns creram nas suas palavras e
volveram de sua maldade para temer e adorar a Deus.
Trasladação de Enoque
Enoque continuou a tornar-se mais piedoso enquanto se
comunicava com Deus. Sua face era radiante com a santa luz que permanecia em
sua fisionomia enquanto instruía aqueles que vinham para ouvir suas sábias
palavras. Sua aparência digna e celestial infundia às pessoas reverência. O Senhor
amava a Enoque porque ele firmemente O seguia, aborrecendo a iniqüidade, e
fervorosamente buscava conhecimento celestial, para fazer Sua vontade com
perfeição. Ele anelava unir-se ainda mais estreitamente com Deus, a quem temia,
reverenciava e adorava. Deus não permitiu a Enoque morrer como outros homens,
mas enviou Seus anjos para levá-lo ao Céu sem ver a morte. Na presença de
justos e ímpios Enoque foi removido deles. Aqueles que o amavam pensaram que
Deus pudesse tê-lo deixado em algum de seus lugares de retiro, porém, depois de
procurarem diligentemente por ele, e sendo incapazes de achá-lo, disseram que
não se acharia mais, porque Deus o tomara.
O Senhor ensina aqui uma lição da maior importância pela
trasladação de Enoque - um descendente do decaído Adão - que seriam
recompensados todos que pela fé confiassem no sacrifício prometido e fielmente
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obedecessem a Seus mandamentos. Duas classes são aqui outra
vez representadas como devendo existir até o segundo advento de Cristo - os
justos e os ímpios, os rebeldes e os leais. Deus Se lembrará dos justos, que O
temem. Em consideração a Seu amado Filho Ele os estimará e honrará, dando-lhes
a vida eterna. Mas os ímpios, aqueles que pisam Sua autoridade, Ele os cortará
da Terra e os destruirá, e serão como se nunca tivessem existido.
Depois da queda de Adão de um estado de perfeita felicidade
para um estado de infelicidade e pecado, havia o perigo de os homens se
tornarem desencorajados e inquirirem: "Inútil é servir a Deus: que nos
aproveitou termos cuidado em guardar os Seus preceitos, e em andar de luto
diante do Senhor dos Exércitos" (Mal. 3:14), uma vez que a maldição
celeste repousa sobre a raça humana, e a morte é a porção de todos nós? Mas as
instruções que Deus dera a Adão, repetidas a Sete e plenamente exemplificadas
por Enoque, iluminaram o caminho de trevas e escuridão, dando esperança ao
homem de que, assim como por meio de Adão veio a morte, mediante Jesus, o
Redentor prometido, viria vida e imortalidade.
No caso de Enoque, os desalentados fiéis foram ensinados
que, embora vivendo entre pessoas corruptas e pecadoras, que estavam em aberta
e ousada rebelião contra Deus, seu Criador, contudo se Lhe obedecessem e
tivessem fé no Redentor prometido, eles podiam proceder com justiça como o fiel
Enoque, ser aceitos por Deus, e finalmente exaltados ao Seu trono celestial.
Enoque, separando-se do mundo, e gastando muito de seu tempo
em oração e comunhão com Deus, representa o leal povo de Deus nos últimos dias,
que se há separar do mundo. A injustiça deverá prevalecer em terrível extensão
sobre a Terra. Os homens se dedicarão a seguir toda
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imaginação de seu corrupto coração e impor sua enganosa
filosofia e rebelião contra a autoridade dos altos Céus.
O povo de Deus separar-se-á das práticas injustas dos que os
rodeiam e procurará a pureza de pensamentos e santa conformidade com Sua
vontade, até que Sua divina imagem seja refletida neles. Como Enoque, estarão
se preparando para a trasladação ao Céu. Enquanto se esforçam para instruir e
advertir o mundo, eles não se conformarão ao espírito e costumes dos
descrentes, mas os condenarão por meio de seu santo procedimento e piedoso
exemplo. A trasladação de Enoque para o Céu, pouco antes da destruição do mundo
pelo dilúvio, representa a trasladação de todos os justos vivos da Terra antes
da sua destruição pelo fogo. Os santos serão glorificados na presença daqueles
que os odiaram por sua leal obediência aos justos mandamentos de Deus.
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