quarta-feira, 2 de outubro de 2013

DISCIPLINA: RELIGIOSIDADE E COMPETENCIA PROFISSIONAL
(AULA DO DIA 10/10/13) 
MANASSÉS E JOSIAS

O reino de Judá, próspero nos tempos de Ezequias, foi uma vez mais para o declínio durante os longos anos do ímpio reinado de Manassés, quando o paganismo foi reavivado, e muitos dentre o povo foram levados à idolatria. "Manassés tanto fez errar a Judá e aos moradores de Jerusalém, que fizeram pior do que as nações que o Senhor tinha destruído." II Crôn. 33:9. A gloriosa luz de gerações anteriores fora seguida pelas trevas da superstição e do erro. Graves males brotaram e floresceram - a tirania, a opressão, o ódio a tudo que era bom. A justiça foi pervertida e prevaleceu a violência.
Não obstante esses maus tempos não ficaram sem testemunhas para Deus e o direito. As experiências difíceis pelas quais Judá havia passado em segurança durante o reinado de Ezequias, tinham desenvolvido no coração de muitos uma inflexibilidade de caráter que agora servia como baluarte contra a iniqüidade predominante. Seu testemunho em favor da verdade e da justiça despertou a ira de Manassés e seus associados em autoridade, os quais se esforçavam por se estabelecerem na prática do mal pelo silenciar toda voz de desaprovação. "Manassés derramou muitíssimo sangue inocente, até que encheu Jerusalém de um ao outro extremo." II Reis 21:16.
Um dos primeiros a cair foi Isaías, que durante mais de meio século estivera perante Judá como mensageiro apontado por Jeová. "Outros experimentaram escárnios e açoites, e até cadeias e prisões. Foram apedrejados, serrados, tentados, mortos ao fio da espada; andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabras, desamparados, aflitos e maltratados (dos quais o mundo não era digno), errantes pelos desertos e montes, e pelas covas e cavernas da terra." Heb. 11:36-38.
Alguns dos que sofreram perseguição durante o reinado de Manassés foram comissionados para levar mensagens especiais de reprovação e juízo. O rei de Judá, declararam os profetas, "fez estas abominações, fazendo pior do que quanto fizeram... os que antes dele foram". Em virtude de sua impiedade, seu reino aproximava-se de uma crise; breve os habitantes da terra deviam ser levados cativos para Babilônia, para ali se tornarem "roubo e despojo para todos os seus inimigos". II Reis 21:11 e 14. Mas o Senhor não esqueceria inteiramente aqueles que em terra estranha O reconhecessem como seu Rei; eles poderiam sofrer grande tribulação, mas Ele lhes levaria livramento na maneira e no tempo determinados. Os que pusessem sua confiança inteiramente nEle, encontrariam um seguro refúgio. Fielmente os profetas continuaram suas advertências e exortações; destemerosamente falaram a Manassés e a seu povo, mas as mensagens foram desprezadas; a transviada Judá não queria dar ouvidos. Como amostra do que poderia sobrevir ao povo se este continuasse impenitente, o Senhor permitiu que seu rei fosse capturado por um bando de soldados assírios, os quais "o amarraram com cadeias, e o levaram a Babilônia", sua capital temporária. Esta aflição trouxe o rei ao seu juízo; "ele, angustiado, orou deveras ao Senhor seu Deus, e humilhou-se muito perante o Deus de seus pais; e Lhe fez oração, e Deus Se aplacou para com ele, e ouviu a sua súplica, e o tornou a trazer a Jerusalém, ao seu reino. Então conheceu Manassés que o Senhor era Deus". II Crôn. 33:11-13. Mas este arrependimento, notável embora, veio demasiado tarde para salvar o reino da influência corruptora de anos de prática idolátrica. Muitos haviam tropeçado e caído, não se levantando mais.
Entre aqueles cuja experiência da vida tinha sido influenciada além da possibilidade de recuperação pela fatal apostasia de Manassés, estava seu próprio filho, que subiu ao trono na idade de vinte e dois anos. Do rei Amom está escrito: "Andou em todo o caminho em que andara seu pai, e serviu os ídolos, a que seu pai tinha servido, e se inclinou diante deles. Assim deixou ao Senhor, Deus de seus pais". II Reis 21:21 e 22. Ele "não se humilhou perante o Senhor, como Manassés, seu pai, se humilhara, antes multiplicou Amom os seus delitos". Ao ímpio rei não foi permitido reinar por muito tempo. Em meio de sua audaciosa impiedade, dois anos depois de haver ascendido ao trono, foi morto no palácio por seus próprios servos; e "o povo da terra fez reinar em seu lugar a Josias, seu filho". II Crôn. 33:23 e 25. Com a ascensão de Josias ao trono, onde devia reinar por trinta e um anos, os que haviam conservado a pureza de sua fé começaram a esperar que o declínio do reino fosse detido; pois o novo rei, embora tivesse apenas oito anos de idade, temia a Deus, e desde o início "fez o que era reto aos olhos do Senhor; e andou em todo o caminho de Davi, seu pai, e não se apartou dele nem para a direita nem para a esquerda". II Reis 22:2. Filho de um rei ímpio, perseguido por tentações para que seguisse nos passos do pai, e com poucos conselheiros para encorajá-lo no caminho direito, foi Josias não obstante leal ao Deus de Israel. Advertido pelos erros de passadas gerações, escolheu fazer o que era reto, em vez de descer ao baixo nível do pecado e degradação a que seu pai e seu avô haviam caído. Ele "não se desviou nem para a direita nem para a esquerda". Como alguém que devia ocupar uma posição de confiança, resolveu obedecer à instrução que tinha sido dada para a guia dos governantes de Israel; e sua obediência tornou possível que Deus o usasse como um vaso de honra.
Ao tempo em que Josias começou a reinar, e muitos anos antes, os sinceros em Judá perguntavam-se em dúvida se as promessas de Deus ao antigo Israel seriam cumpridas. Do ponto de vista humano, o propósito divino para a nação escolhida parecia quase impossível de ser realizado. A apostasia dos primeiros séculos havia angariado forças com o passar dos anos; dez das tribos tinham sido espalhadas entre os pagãos; apenas as tribos de Judá e Benjamim permaneceram, e essas mesmas pareciam agora às bordas da uína nacional e moral. Os profetas tinham começado a predizer a completa destruição de sua aprazível cidade, onde se erguia o templo de Salomão e onde se centralizavam todas as suas esperanças de grandeza nacional. Seria possível que Deus estivesse prestes a tornar atrás em Seu juramentado propósito de levar livramento aos que nEle confiassem? Em face da longa perseguição dos justos, e da aparente prosperidade dos ímpios, poderiam os que haviam permanecido leais a Deus aguardar dias melhores?
Estas ansiosas interrogações foram pronunciadas pelo profeta Habacuque. Contemplando a situação dos fiéis em seus dias, ele expressou o peso que lhe ia no coração, inquirindo: "Até quando, Senhor, clamarei eu, e Tu não me escutarás? gritarei: Violência e não salvarás? Por que razão me fazes ver a iniqüidade, e ver a vexação? Porque a destruição e a violência estão diante de mim; há também quem suscite a contenda e o litígio. Por esta causa a lei se afrouxa, e a sentença nunca sai; porque o ímpio cerca o justo, e sai o juízo pervertido." Hab. 1:2-4.
Deus respondeu ao clamor de Seus filhos leais. Por intermédio de Seu porta-voz Ele revelou Sua determinação de levar a correção à nação que O tinha desprezado para servir aos deuses dos gentios. Nos dias mesmos de alguns que estavam então inquirindo com respeito ao futuro, Ele miraculosamente modelaria os planos das nações dominantes na Terra, levando Babilônia à ascendência. Esse povo caldeu, "horrível e terrível" (Hab. 1:7), cairiam subitamente sobre a terra de Judá como um açoite divinamente apontado. Os príncipes de Judá e os mais distintos dentre o povo seriam levados cativos para Babilônia; as cidades e vilas da Judéia e os campos cultivados seriam devastados, a nada se poupando.
Confiante de que mesmo neste terrível juízo o propósito de Deus por Seu povo seria de alguma maneira cumprido, Habacuque rendeu-se em submissão à vontade revelada de Jeová. "Não és Tu desde sempre?" ele exclamou. E então sua fé viu além das desoladoras perspectivas do imediato futuro, e descansando nas preciosas promessas que revelam o amor de Deus por Seus confiantes filhos, o profeta acrescentou: "Nós não morreremos." Hab. 1:12. Com esta declaração de fé, ele depôs sua causa, bem como a de cada crente israelita, nas mãos de um compassivo Deus.
Não foi esta a única experiência de Habacuque no exercício de forte fé. Uma ocasião, quando meditava sobre o futuro, ele disse: "Sobre a minha guarda estarei, e sobre a fortaleza me apresentarei e vigiarei, para ver o que fala comigo". Graciosamente o Senhor lhe respondeu: "Escreve a visão, e torna-a bem legível sobre tábuas, para que a possa ler o que correndo passa. Porque a visão é ainda para o tempo determinado, e até ao fim falará, e não mentirá. Se tardar, espera-o; porque certamente virá, e não tardará. Eis que a sua alma se incha, não é reta nele; mas o justo pela sua fé viverá." Hab. 2:1-4.
A fé que fortaleceu Habacuque e todos os santos e justos naqueles dias de grande provação, é a mesma que sustém o povo de Deus hoje. Nas horas mais escuras, sob as mais proibitivas circunstâncias, o crente cristão pode suster sua alma sobre a fonte de toda luz e poder. Dia a dia, pela fé em Deus, sua esperança e ânimo podem ser renovados, "o justo pela sua fé viverá". Hab. 2:4. No serviço de Deus não precisa haver desalento, nem vacilação ou temor. O Senhor fará mais que cumprir as mais altas expectativas dos que nEle põem a sua confiança. Ele lhes dará a sabedoria que suas múltiplas necessidades demandam.
Da abundante provisão feita em favor de cada alma tentada, o apóstolo Paulo deu eloqüente testemunho. A ele foi dada a divina certeza: "A Minha graça te basta, porque o Meu poder se aperfeiçoa na fraqueza". Em gratidão e confiança, o provado servo de Deus respondeu: "De boa vontade pois me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo. Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco então sou forte." II Cor. 12:9 e 10.
Devemos acariciar e cultivar a fé da qual testificaram profetas e apóstolos - a fé que se apodera das promessas de Deus, e espera pelo livramento na ocasião e maneira apontados. A firme palavra da profecia encontrará seu final cumprimento no glorioso advento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, como Rei dos reis e Senhor dos senhores. O tempo de espera pode parecer longo, a alma pode ser oprimida por desanimadoras circunstâncias, muitos daqueles em quem confiamos podem cair ao longo do caminho; mas como o profeta que procurou encorajar Judá em tempo de apostasia sem precedente, confiadamente declaramos: "O Senhor está no Seu santo templo; cale-se diante dEle toda a Terra." Hab. 2:20. Tenhamos sempre em mente a confortante mensagem: "A visão é ainda para o tempo determinado, e até ao fim falará, e não mentirá. Se tardar espera-o; porque certamente virá, não tardará. ... O justo pela sua fé viverá." Hab. 2:3 e 4.

Não foi Habacuque a única pessoa por cujo intermédio fora dada uma mensagem de esperança e de um futuro triunfo, bem assim de julgamento presente. Durante o reinado de Josias a palavra do Senhor veio a Sofonias, especificando claramente os resultados da continuada apostasia, e chamando a atenção da verdadeira igreja para a gloriosa perspectiva de além. Suas profecias de juízo impendente sobre Judá se aplicam com igual força aos juízos que devem cair sobre um mundo impenitente por ocasião da segunda vinda de Cristo:



O LIVRO DA LEI

As influências silenciosas mas poderosas postas em operação pelas mensagens dos profetas quanto ao cativeiro babilônio, muito fizeram para preparar o caminho para uma reforma que ocorreu no décimo oitavo ano do reinado de Josias. Este movimento de reforma, pelo qual os juízos pressagiados foram sustados por algum tempo, foi levado a efeito de maneira inteiramente inesperada graças à descoberta e estudo de uma porção da Sagrada Escritura que durante muitos anos havia estado estranhamente deslocada e perdida.
Cerca de um século antes, durante a primeira celebração da Páscoa por Ezequias, tomaram-se medidas para a leitura pública do livro da lei ao povo, por sacerdotes-instrutores. Foi a observância dos estatutos escritos por Moisés, especialmente os que haviam sido dados no livro do concerto, e que faziam parte do Deuteronômio, que fizera próspero o reinado de Ezequias. Porém Manassés ousara pôr de lado esses estatutos; e durante seu reinado a cópia do livro da lei que estava no
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templo, por negligência e descuido, havia-se perdido. Assim foi o povo durante muitos anos privado de maneira generalizada de sua instrução.
O manuscrito por tanto tempo perdido foi achado no templo por Hilquias, o sumo sacerdote, quando o edifício estava sob intensivos reparos, em harmonia com o plano do rei Josias para a preservação da estrutura sagrada. O sumo sacerdote passou o sagrado volume às mãos de Safã, um escriba letrado, que o leu, e o levou ao rei, com a história de sua descoberta.
Josias ficou profundamente impressionado ao ouvir pela primeira vez a leitura das exortações e advertências registradas neste antigo manuscrito. Nunca dantes compreendera ele tão profundamente a clareza com que Deus havia posto perante Israel "a vida e a morte, a bênção e a maldição" (Deut. 30:19); e quão repetidamente havia eles sido admoestados a escolher o caminho da vida, para que se tornassem um louvor na Terra, uma bênção a todas as nações. "Esforçai-vos, e animai-vos; não temais", Israel tinha sido exortado por intermédio de Moisés, "nem vos espanteis diante deles; porque o Senhor teu Deus é o que vai contigo. Não te deixarei nem te desampararei." Deut. 31:6.
O livro era abundante em declarações assegurando a disposição de Deus em salvar perfeitamente os que pusessem nEle sua inteira confiança. Como Ele operara em livrá-los do cativeiro egípcio, assim obraria poderosamente em estabelecê-los na terra da promessa e em pôlos como cabeça das nações da Terra.
Os estímulos oferecidos como recompensa da obediência foram acompanhados por profecias de juízo contra o desobediente; e ao ouvir o rei as inspiradas palavras, reconheceu, no quadro que lhe estava diante, condições similares às predominantes então no reino. Em conexão com essa retratação profética do afastamento de Deus, ele ficou alarmado ao encontrar afirmações claras de molde a concluir que o dia da calamidade seguir-se-ia depressa, e que não haveria remédio. A linguagem era clara; não se poderia compreender diferentemente o significado das palavras. E no encerramento do volume, num sumário do trato de Deus com Israel e uma repetição dos eventos futuros, esses assuntos foram tornados duplamente claros.
 Lendo o rei as profecias de apressado juízo sobre os que persistissem na rebelião, tremeu ante o futuro. A perversidade de Judá havia sido grande; qual seria o resultado de sua continuada apostasia?
Em anos anteriores o rei não havia sido indiferente à predominante apostasia. "No oitavo ano do seu reinado, sendo ainda moço", ele se consagrou inteiramente ao serviço de Deus. Quatro anos mais tarde, com a idade de vinte anos, havia ele feito um fervoroso esforço para remover a tentação de seus súditos, purificando "a Judá e Jerusalém, dos altos e dos bosques, e das imagens de escultura e de fundição". "E derribaram perante ele os altares de Baalim; e cortou as imagens do Sol, que estavam acima deles; e os bosques, e as imagens de escultura e de fundição quebrou e reduziu a pó, e o espargiu sobre as sepulturas dos que lhes tinham sacrificado. E os ossos dos sacerdotes queimou
sobre os seus altares, e purificou a Judá e a Jerusalém". II Crôn. 34:3-5.
Não contente com fazer uma obra total na terra de Judá, o jovem rei havia estendido seus esforços às partes da Palestina anteriormente ocupadas pelas dez tribos de Israel, de que permanecia apenas um fraco remanescente. "O mesmo fez nas cidades de Manassés", diz o relato, "e de Efraim, e de Simeão, e ainda até Naftali". Não antes que tivesse percorrido de extremo a extremo esta região de lares arruinados, "e tendo derribado os altares, e os bosques, e as imagens de escultura, até reduzi-los a pó", "tendo cortado todas as imagens do Sol em toda a terra de Judá" (II Crôn. 34:6 e 7) - não antes retornou ele para Jerusalém.
Assim Josias, desde o limiar mesmo de sua varonilidade, havia-se empenhado em tirar partido de sua posição como rei para exaltar os princípios da santa lei de Deus. E agora, enquanto o escriba Safã lia para ele no livro da lei, o rei discerniu neste volume um tesouro de conhecimento, um poderoso aliado na obra de reforma que tanto desejava ver executada na terra. Resolveu andar na luz dos seus conselhos, e também fazer tudo que estivesse em seu poder para familiarizar seu povo com seus ensinos, e levá-los, se possível, a cultivar reverência e amor pela lei do Céu.
Seria, porém, possível levar a efeito a necessitada reforma? Israel havia alcançado, quase, os limites da divina paciência; logo Deus Se levantaria para punir os que haviam desonrado Seu nome. Já a ira do Senhor estava inflamada contra o povo. Oprimido pela tristeza e desânimo, Josias rasgou seus vestidos, e se prostrou perante Deus em agonia de espírito, suplicando perdão para os pecados de uma nação impenitente.
Por esse tempo vivia em Jerusalém próximo do templo a profetisa Hulda. O espírito do rei, carregado de ansiosos pressentimentos, voltou-se para ela, e ele se determinou interrogar o Senhor por intermédio desta mensageira escolhida, para saber, se possível, se por qualquer meio ao seu alcance poderia ele salvar o extraviado Judá, agora às bordas da ruína.
A gravidade da situação, e o respeito em que ele tinha a profetisa, levaram-no a escolher como mensageiros a ela, homens dentre os primeiros do reino. "Ide", lhes ordenara ele, "consultai ao Senhor por mim e pelos que restam em Israel e em Judá, sobre as palavras deste livro que se achou; porque grande é o furor do Senhor, que se derramou sobre nós, porquanto nossos pais não guardaram a palavra do Senhor, para fazerem conforme a tudo quanto está escrito neste livro." II Reis 22:13.
Por intermédio de Hulda o Senhor enviou a Josias a declaração de que a ruína de Jerusalém não seria evitada. Mesmo que o povo agora se humilhasse perante Deus, eles não escapariam à punição. Por tanto tempo os seus sentidos haviam sido insensibilizados pela prática do mal que se não viessem juízos sobre eles, logo retornariam às mesmas práticas pecaminosas. "Dizei ao homem que vos enviou a mim", declarou a profetisa: "Assim diz o Senhor: Eis que trarei mal sobre este lugar, e sobre os seus habitantes, a saber: Todas as maldições que estão escritas no livro que se leu perante o rei de Judá. Porque Me deixaram, e queimaram incenso perante outros deuses, para Me provocarem à ira com toda a obra das suas mãos; portanto o Meu furor se derramou sobre este lugar, e não se apagará". II Reis 22:15-17.
Mas visto que o rei havia humilhado o coração perante Deus, o Senhor reconheceria a sua pronta disposição de buscar perdão e misericórdia. A ele foi enviada a mensagem: "Porquanto o teu coração se enterneceu, e te humilhaste perante o Senhor, quando ouviste o que falei contra este lugar, e contra os seus moradores, que seriam para assolação e para maldição, e rasgaste os teus vestidos, e choraste perante Mim, também Eu te ouvi, diz o Senhor. Pelo que eis que Eu te ajuntarei a teus pais, e tu serás ajuntado em paz à tua sepultura, e os teus olhos não verão o mal que hei de trazer sobre este lugar". II Reis 22:19 e 20.
O rei devia deixar com Deus os eventos do futuro; ele não poderia alterar os eternos decretos de Jeová. Mas ao anunciar os juízos retributivos do Céu, o Senhor não reteve a oportunidade para arrependimento e reforma; e Josias, discernindo nisto uma boa disposição da parte de Deus para temperar Seus juízos com misericórdia, determinou fazer tudo que estivesse em seu poder para executar decididas reformas. Ele promoveu de pronto uma grande convocação, para a qual foram convidados os anciãos e magistrados de Jerusalém e de Judá, juntamente com o povo comum. Estes, com os sacerdotes e levitas, reuniram-se ao rei no pátio do templo.
A esta vasta assembléia o próprio rei leu "aos ouvidos deles todas as palavras do livro do concerto, que se achou na casa do Senhor". II Reis 23:2. O real leitor estava profundamente comovido, e apresentou sua mensagem com o toque de um coração quebrantado. Seus ouvintes ficaram profundamente tocados. A intensidade de sentimento revelada na face do rei, a solenidade da mensagem em si, a advertência de iminente juízo - tudo isto teve o seu efeito, e muitos se determinaram unir ao rei em busca de perdão. Josias propôs agora que os mais elevados em autoridade se unissem ao povo num solene concerto perante Deus de que cooperariam uns com os outros num esforço para instituir decididas mudanças. "E o rei se pôs junto à coluna, e fez o concerto perante o Senhor, para andarem com o Senhor, e guardarem os Seus mandamentos, e os Seus testemunhos, e os Seus estatutos, com todo o coração, e com toda a alma, confirmando as palavras deste concerto, que estavam escritas naquele livro". A resposta foi mais generosa do que o rei ousara esperar. "Todo o povo esteve por este concerto." II Reis 23:3.
Na reforma que se seguiu, o rei voltou sua atenção para a destruição de todo vestígio de idolatria que havia permanecido. Por tanto tempo haviam os habitantes da Terra seguido os costumes das nações ao redor pelo ajoelhar-se perante imagens de madeira e pedra, que parecia estar quase além do poder do homem remover cada traço desses males. Mas Josias perseverou em seus esforços por purificar a terra. Enfrentou com dureza a idolatria, fazendo matar a "todos os sacerdotes dos altos"; "e também os adivinhos, e os feiticeiros, e os terafins, e os ídolos, e todas as abominações que se viam na terra de Judá e em Jerusalém, os extirpou Josias, para confirmar as palavras da lei, que estavam escritas no livro que o sacerdote Hilquias achara na casa do Senhor". II Reis 23:20 e 24.
Nos dias da divisão do reino, séculos antes, quando Jeroboão filho de Nebate, em ousado desafio ao Deus a quem Israel tinha servido, procurava desviar o coração do povo das cerimônias do templo em Jerusalém para novas formas de culto, ergueu ele um altar profano em Betel. Durante a dedicação deste altar, onde nos anos por vir muitos seriam seduzidos para práticas idólatras, apareceu subitamente um homem de Deus vindo da Judéia, com palavras de condenação para com as práticas sacrílegas.
Três séculos haviam-se passado. Durante a reforma levada a efeito por Josias, o rei se encontrou em Betel, onde estava este antigo altar. A profecia pronunciada tantos anos antes na presença de Jeroboão, devia agora cumprir-se literalmente.
"O altar que estava em Betel, e o alto que fez Jeroboão, filho de Nebate, que tinha feito pecar a Israel, juntamente com aquele altar também o alto derribou; queimando o alto, em pó o desfez, e queimou o ídolo do bosque.
"E virando-se Josias, viu as sepulturas que estavam ali no monte, e enviou, e tomou os ossos das sepulturas, e os queimou sobre o altar, e assim o profanou, conforme a palavra do Senhor, que apregoara o homem de Deus, quando apregoou estas palavras.
"Então disse: Que é este monumento que vejo? E os homens da cidade lhe disseram: É a sepultura do homem de Deus que veio de Judá, e apregoou estas coisas que fizeste contra este altar de Betel. E disse: Deixa-o estar; ninguém mexa nos seus ossos. Assim deixaram estar os seus ossos, com os ossos do profeta que viera de Samaria". II Reis 23:15-18.
Na encosta sul do Olivete, fronteiro ao belo templo de Jeová sobre o Monte Moriá, estavam os altares e imagens que tinham sido postos ali por Salomão, para comprazer suas esposas idólatras. I Reis 11:6-8. Por mais de três séculos, as grandes e disformes imagens haviam estado sobre o "Monte da Ofensa", como testemunhas mudas da apostasia do mais sábio rei de Israel. Essas também foram removidas e destruídas por Josias.
Procurou mais o rei estabelecer a fé de Judá no Deus de seus pais realizando uma grande festa da Páscoa, em harmonia com as provisões feitas no livro da lei. Fizeram-se os preparativos da parte daqueles que tinham o encargo dos serviços sagrados, e no grande dia da festa fizeram-se ofertas livremente. "Nunca se celebrou tal Páscoa como esta desde os dias dos juízes que julgavam a Israel, nem em todos os dias dos reis de Israel, nem tão pouco dos reis de Judá." II Reis 23:22. Mas o zelo de Josias, aceitável embora a Deus, não podia expiar os pecados das passadas gerações; nem podia a piedade manifestada pelos seguidores do rei efetuar uma mudança de coração em muitos que obstinadamente recusavam voltar da idolatria para o culto do verdadeiro Deus.
Mais de uma década após a celebração da Páscoa, Josias continuou a reinar. Aos trinta e nove anos de idade ele encontrou a morte em batalha com as forças do Egito, "e o sepultaram nos sepulcros de seus pais. E todo o Judá e Jerusalém tomaram luto por Josias. E Jeremias fez uma lamentação sobre Josias; e todos os cantores e cantoras falaram de Josias nas suas lamentações, até ao dia de hoje; porque as deram por estatuto em Israel, e eis que estão escritas nas lamentações". II Crôn. 35:24 e 25. Não houve rei semelhante a Josias, "que se convertesse ao Senhor com todo o seu coração, e com toda a sua alma, e com todas as suas forças, conforme toda a lei de Moisés; e depois dele nunca se levantou outro tal. Todavia o Senhor Se não demoveu do ardor da Sua grande ira... por todas as provações com que Manassés o tinha provocado". II Reis 23:25 e 26. Estava-se aproximando rapidamente o tempo em que Jerusalém seria inteiramente destruída, e os habitantes da terra levados cativos para Babilônia, para aí aprenderem as lições que tinham recusado aprender sob circunstâncias mais favoráveis.

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